sexta-feira, 28 de maio de 2010

No céu



Em todo o lugar que ia lembrava dele.
Mudou de casa, bairro, cidade e depois até de país.
Se estava indo bem alguém perguntava:_Será que vai chover?
Mesmo não caindo uma gota naquele dia em Tereza chovia...E muito!
Não adiantava fugir, qualquer lugar que fosse iria lembrar de seu amor.

Quando conseguia uma amiga nova tinha que responder o porquê de tanta mudança em tão pouco tempo, se não tinha alguém que amava..Respondia:_ Me mudo para tentar esquecê-lo, esquecer a dor dentro do peito, o vazio. Quem eu amo está no céu.
E logo a pessoa, toda sem graça, com cara de pena e voz carinhosa:_ Me desculpe Tereza, não tinha idéia. Sinto muito.
Tereza não entendia a reação das pessoas, não queria pena de ninguém... Ora, todos já amaram um dia.

Seis e meia da manhã, liga a TV para que lhe faça companhia. De longe escuta um jornalista: _ Há 2 meses e três dias...
Nossa, até o jornal contava a ausência dele, a solidão dela.
será que todos estavam contra ela fazendo com que se lembrasse dele? Seja jornalista contando os dias, vizinhos perguntando se chove ou não...
Ele não volta mais, por que fazem isso?

Todo o lugar que estava sentia que ele a observava de longe.
Cada gesto, movimento brusco, piscar de olhos. E se comentava sobre isso alguém colocava a mão em seu ombro e dizia:_ É.... Ele deve estar olhando você de lá de cima.

Tereza cansou daquela sensação de vigilância. "Calma Tereza, na verdade ninguém é de ninguém e você sabe" foram as últimas palavras dele.
Tereza saiu de seu mais novo emprego, guardou o carro na garagem e decidiu: _Pronto, vou morrer, por mais que haja amor em mim não quero encontrá-lo em lugar algum. Maldito destino!

Sentou em sua cadeira que ficava de frente pra janela e com a cortina entreaberta passou a observar as pessoas. Tinha que pecar para que quando a morte chegasse não fosse para o céu. Mas não era capaz de roubar, matar, mover um dedo para machucar alguém... Então pensava, já que não se movia nesse sentido, pensava, amaldiçoava cada um que passasse em sua janela.
"Tropeça! ...Topa o dedão!... Bate essa cara no poste!"
E nada, todos tinham uma miserável de uma sorte. Ninguém topava dedo e muito menos dava com cara em poste. Se esbarrava com outra pessoa eram conhecidos e haviam aqueles pedidos de desculpas.

Dias sentada bebendo refrigerante. Nunca bebeu isso, só suco. Pensou:_ Se já desentopi ralo com ele imagina o que vai fazer com meu estômago.
Mais um mÊs dentro de casa e nada de morte bater na porta, só aqueles novos amigos que, para piorar toda a situação, diziam:_ Tereeezaa, sai de casa, mulher! Olhe como o céu está bonito hoje, vai!
Mas ela não queria ver o céu e nem ir para ele, muito menos saber dele.
É, nesse período os seus pensamentos já tinham se misturado e se fragmentado, depois eles se agruparam, pedaços por pedaço, formando outros que em tempos atrás nunca passariam por sua cabeça.

Resolveu ligar a tv, há meses não tinha sua companhia e ligou logo no horário do jornal.
Viu aquele "William alguma coisa" falar algo familiar com toda a situação. Era Wiliam... Ai, William.. Espere, o nome do jornal era... hum...
Nem se lembrava mais!
Pois bem, vinha ele dizendo: _ Nove meses no espaço e estão se preparando para voltar...Ricardo, Tiago e César.

CÉSAR, o nome ecoava em seus ouvidos.
Deu um pulo da cadeira e esbravejou em voz alta: _ Ele já foi embora há nove meses e eu aindo estou aqui... Viva sem ele...Suportando, fugindo, mas todo o lugar que vou tem céu...

E antes que terminasse seu discurso de indignação o jornalista parece interromper dizendo: _Dentre várias mensagens que enviaram durante esse perído há aquela declaração de amor e pedidos de desculpas a uma mulher chamada Tereza. Bom Fátima, vários programas de Tv já falaram sobre esse assunto, esse arrependimento de um homem que de fora da Terra pede o perdão. Será que ela não o quer mais? Onde está essa tal de Tereza? (risos)

_É William, acho que não...Se gostasse dele ela estaria com a cabeça na lua. -( Aqueles trocadilhos típicos de jornalista).

Tereza, não acreditando, se perguntou:_ Será que essa loucura chegou a esse ponto?
Empurrou os pensamentos para longe, saiu de sua forma estática e correu par ao banho. Depois que a água tinha levado toda aquela tristeza embora,Tereza abriu todas as janelas e olhou para aquele céu imenso.

Tanto tempo perdido para só agora descobrir que ele voltaria... Não só para a Terra, mas para ela.
É...Quem mandou se apaixonar por astronauta?



=]

Texto: Dan.

domingo, 9 de maio de 2010

Histórias, bebidas, risadas...


E foi engraçado...
Dois, três anos depois terem se encontrado.
Na verdade, pelo começo da história, o normal seria tudo se resumir em:_Gostei de trabalhar contigo. Beijo, tchau...
Mas hoje, pela história que decidiu tomar seu rumo por si só, tudo acabou/começou em uma mesa de bar.
“Nossa, nunca falei isso pra ninguém”
“Ah, outra vez a gente se vê”
“ Vamos dizer, um exemplo, que te conheço de outra encarnação”....
“Tenho certeza disso”...


E foi engraçado, desde o primeiro “oi”
até o último quebra mola
Até a ultima garrafa
Até o último copo de cerveja
Até o último gole
Até a bochecha doer


=]

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Os mares





Eles dois, no mar.
Ele, peixe desde pequeno, conhece as ondulações, as quebradas, os buracos.
Ela, que não é peixe mas sempre foi do mar, aprende a passar por essas ondas frias, a prender o pé na areia, mostrar que é amiga sim daquela imensidão.
Ele, que em tempos passados foi diferente, sabe quantas ondas frias ela já furou, quantas ondas mesmo provocou.
Ela, peito aberto desde pequena, mostra que não há onda que não possa mais passar.

Quem é que nunca entrou no mar das paixões?
E frequentemente é assim, primeiros os pés, depois as mãos.
Há uns que entram de cabeça, outros que fazem até graça antes..
Mas você vai andando, e essa água alcança metade do seu corpo e... vai subindo, subindo, até a altura do peito. (Aí é que está o perigo).
Vem a primeira onda, coisa nova, não sabe o que fazer né?
As vezes você a vê passar e a unica sensação que tem é aquele frio na espinha.
As vezes você a fura, pronto! É isso..
E as vezes, ahh, as vezes você vai junto com ela e ela quebra em cima de você, então você rola, se enrola, se embola, se levanta e ...peraí....onde eu to?
Como é que você perde a direção das coisas assim?... e não sabe de onde vem tanto sal...Se é daquele mar ou dos seus próprios olhos.

Entra de novo (vai lá, diz seu coração e sua coragem).
Aí começa a variar: pula onda, vira de costas, de lado, fecha os olhos, outras passam e você nem vê mesmo de olhos abertos...E outras você nada, sente seus movimentos, a temperatura que varia, a altura...Aahh, certas ondas são uma delícia.... tão duradouras … tão curtas e intensas...tão lindas.
Você vai aprendendo cada vez mais.
Sabe onde pode ser ruim, onde uma onda pode quebrar, pra que lado te levar... E mesmo assim você ainda pisa em uns buracos de vez em quando... normal. É aí que mora a graça. O mar é muito grande pra você conhecê-lo, ora... Iria ter graça se fosse um laguinho em que você ficasse ali, parado, na companhia da calmaria esperando o tempo passar e sua pele enrugar, enrugar e ficar toda dobradinha....?

Ele, peixe desde pequeno, ajuda ela a subir na prancha.
Ela atenta aos conselhos, sobe.........mas vem uma onda e ela cai...
Ele: mas você não disse que sabe sobre o mar?
Ela responde: Você entendeu errado, do mar de Iemanjá eu não sei, mas do outro eu sei sim, as vezes caio, mas sei.

=]

quinta-feira, 6 de maio de 2010

A menina livre a pedalar

Arte: Ana Moraes
Texto: D.


De longe vejo a bicicleta vermelha com a sua menina livre a pedalar.
Um rosto sereno, bem singelo.
Pele branquinha com olhos negros lembrando um conto infantil.

O vento brincando em seu cabelo
dando voltas e mais voltas tirando-o do lugar.
Cada fio sincronizado nessa dança de velocidade e giros variados.

O cabelo parece dizer: _Deixe-me solto, assim posso voar,
Pego carona nessa brisa, subo, flutuo e quando você pára eu desço
vou me encostando em seus ombros, suas costas, devagar, bem devagar... ficando mais perto de ti.

A bicicleta vermelha parece dizer: _Te levo pra onde quiser, minha garota.
Cada parte de mim veio de um lugar diferente. Não preciso de água pois não tenho sede,
muito menos de comida, só lhe peço que aqueça o seu sangue, encha os pulmões de ar
mas não esqueça dos meus pneus.

O caminho parece dizer: _Boom dia! Cada dia que passa fica mais bonita, sabia?
Devo lhe confessar que sou machucado toda hora pois passam por mim sem nenhuma preocupação, se sinto algo ou não...
São ônibus, caminhões, carros, barulho e barulho, MAS você não me machuca.
Quando passa é carinho que me faz, atravessa minhas ruas, sobe em minhas calçadas,
ziquezagueando me faz cócegas também, então vou ficando ansioso pelo momento em que você espera um sinal abrir para que apoie seu pé, em meia ponta, em mim... Ai,minhas faixas brancas quase ficam rosadas.

Enquanto todos pareciam dizer algo, a menina continua a pedalar sem ter a noção de tudo o que acontece, do que ela causa nas coisas, apenas fica atenta aos carros e pessoas para não esbarrar.

De longe vejo a bicicleta vermelha com a sua menina livre a pedalar.
De longe sinto o vento lhe dizer, a bicicleta dizer, o caminho dizer.... Mas ela não escuta.
Tem tanta coisa que ta subentendido no seu viver.


=)

...

O que você sente quando está em uma sombra de árvore?